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Histórias de quem sabe muito sobre o valor da vida

12/05/2020
O atleta com deficiência tem um caminho maior para superar, além do desafio esportivo muitas vezes precisam enfrentar a sociedade e lutar contra a visão torpe banalizada como se fossem “coitadinhos"
 

Cada atleta sempre traz consigo uma história rica de muitos desafios, mas para os atletas com deficiência além de um histórico de superação ele tem um caminho maior na sua trajetória, o primeiro deles é mostrar para a sociedade que a vida deles pode até ter um caminho maior na sua caminhada, mas nem por isso ele é insuperável. Muitas dessas histórias foram rescritas graças ao esporte, como a dos atletas Isac Alves Cardoso e também do Ray Anderson Nascimento Ribeiro. Eles fazem parte do grupo de 185 atletas inscritos no Brasil hoje na Paracanoagem.

 
Isaac rema há um ano, mas sua trajetória passou por uma grande transformação há quase uma década após uma queda de cinco metros de altura em virtude de um acidente de trabalho. No primeiro momento o sentimento é que a vida pregou uma grande peça, mas Isac viu de uma outra forma: “Deus deu uma segunda chance”. Com o corpo abaixo do peito paralisado, ele teve que se reinventar e trocar sua paixão esportiva, Isaac era praticante de corridas, “meu maior sonho era participar da Volta da Pampulha e da Maratona de São Paulo, mas esse sonho ficou para atrás”, diz.
 
Sem poder usar suas pernas para o esporte, conheceu a Paracanoagem e percebeu que seus braços poderiam dar aquele antigo gostinho de se sentir livre como fazia na época nos seus passos velozes, “o sentimento de quanto estou remando é de liberdade”, resume. Isac é atleta do Instituto Meninos do Lago de Foz do Iguaçu no Paraná, ação mantida pela Itaipu Binacional e conta com 16 atletas da paracanoagem. Há poucos meses participou da sua primeira competição, a Copa Brasil de Paracanoagem realizada em março passado em São Paulo, ele foi o atleta inscrito mais velho com 55 anos e mostrou que virar a página da vida não tem idade. “Competir pela primeira vez na canoagem foi a maior superação da minha vida uma sensação de liberdade momento único”, fala.
 
Para Ray morador de Petrolina no Pernambuco a sua reviravolta foi depois de um acidente de trânsito com apenas 24 anos, perder parte da perna poderia ser visto como um filme de final triste, mas o jovem atleta transformou tudo isso em combustível e virou a página vida através do esporte. “Antes de conhecer a Paracanoagem eu não fazia nada, mas agora depois de conhecer essa modalidade isso caiu de para quedas na minha vida”, fala. Ele ingressou na canoagem graças ao projeto da Univasf – Universidade do Vale do Rio São Francisco, “Eu me muito feliz, sensação de liberdade, de normalidade, sem falar na inclusão na sociedade. Quem ver agente remando pensa que somos normais fisicamente”, complementa.
 
 
Histórias como a de Isaac e Ray estão espalhadas pelos vários cantos do País, eles são novos atletas, mas estão no caminho de outros grandes nomes da própria Paracanoagem como Luis Carlos Cardoso, campeão mundial, Caio Ribeiro medalhista olímpico e também o Fernando Rufino que também ganha destaque várias mulheres como Debora Raiza Ribeiro, Mari Santilli entre outros. Estima-se que o Brasil conta com 45 milhões de Pessoas com Deficiência (PCDs), o que representa 24% da população conforme o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um público que muitas vezes é invisível das políticas sociais e principalmente da discriminação social, que como Isac afirmou no parágrafo anterior gostaria de ser reconhecido como “normais”.
 
“O esporte é uma das melhores ferramentas de inclusão social, física, intelectual que a nossa sociedade tem hoje. Apesar de encontrar as vezes muitos empecilhos para iniciar a prática, de qualquer modalidade, pela falta de acessibilidade de estrutura, de transporte. Hoje já enxergamos muitas mudanças significativas postas em prática, estamos evoluindo”, garante Leonardo Maiola, diretor-geral e supervisor da modalidade de Paracanoagem da Confederação Brasileira de Canoagem – CBCa.
 
Visão torpe da sociedade
O rico histórico no caminho de uma pessoa com deficiência muitas vezes é retratado como um “coitado” ou “inválido”, boa parte das vezes provocados pelo simples desconhecimento da sociedade em geral. Algumas vezes essa visão é exacerbada de maneira errônea como aconteceu em abril deste ano em vídeos republicados nas redes sociais, os comediantes Abner Henrique e Dihh Lopes trataram de modo ofensivo, ultrajante e desumano como trataram as pessoas com deficiência em seus shows a dupla debulha um rosário de preconceitos contra os amputados, autistas, acometidos por síndrome de Down e crianças com câncer, utilizando-se do subterfúgio de fazer comédia, o caso ligou o alerta de várias instituições como o CPB – Comitê Paralímpico do Brasil que se manifestou alertando sobre crime chamado de capacitismo, constante da Lei Brasileira da Inclusão (lei 13.146/2015).
 
 
A visão torpe ou sem subsídios sobre a vida de uma pessoa com deficiência no conceito comum da sociedade faz com que muitos tenham preconceitos, mesmo que implícitos no seu dia a dia, na passagem pelo um aeroporto, ir ao banco entre outros locais. Em mais um episódio também de preconceito explicito foi aconteceu no início deste mês feito pelo apresentador Aldery Ribeiro de uma emissora de televisão regional de Campo Mourão no Paraná onde faz uma analogia utilizando os atletas que participam dos Jogos Paralímpicos com a seguinte frase, “você pode até ganhar, mas continua deficiente”, ao contrário do que ele diz, eles já ganharam muito tendo a oportunidade de participar do esporte.
 
Ele tentou se desculpar pelo episódio, mas mesmo assim foi alvo de uma ação movida pela 3ª Promotoria de Justiça de Campo Mourão, onde foi pedido que o vídeo seja retirado do site do canal e que Aldery e a emissora paguem R$ 200 mil por danos morais coletivos. Se o processo for vencido, o valor será revertido para o Fundo Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. A opinião do apresentador também motivou uma nota de repúdio por parte dos atletas da Paracanoagem. “O senhor jornalista não deve reconhecer o mínimo do trabalho realizado diariamente por todos os atletas do movimento paralímpico, ou ainda as pessoas com deficiência que encontram barreiras diárias em seus deslocamentos”, diz parte do trecho.
 
 
A canoísta Adriana Azevedo compete pelo CRC de Curitiba, ela iniciou sua carreira esportiva em 2017, cheia de bons resultados ela garantiu uma semifinal no mundial em 2017, entre outros feitos nacionais ela sabe a importância do esporte na vida de uma atleta com deficiência. “O Universo do Paradesporto é cheio de exemplos e relatos magníficos. É Inclusão, é resgate, é determinação é a Vida em Movimento”, afirma.
 
 
Segundo Drica as pessoas têm que conhecer melhor esse universo antes de opinar sem subsídios: “Que elas abram os Horizontes, que percebam a evolução da vida à sua frente. Os tempos mudaram e novos heróis começam a surgir. Não há mais tempo para ignorância e para o preconceito. Compartilhem da nossa luta, dos nossos milagres diários”, fala. 
 
De acordo com Leonardo Maiola, esses movimentos em defesa dos atletas com deficiência física demonstram que o grupo está cada vez mais fortalecido, isso favorece para mostrar a verdadeira visão dessa categoria que é rica e pode contribuir muito para a sociedade. “Para um atleta chegar em um alto rendimento, chegar em um Jogos Paralímpicos ele tem muitos caminhos, o dia a dia desse profissional é muito árduo, hoje a gente consegue ver um Comitê Paralímpico muito efetivo e atuante na mudança de cultura, não apenas na questão esportiva mas em tudo o que o movimento paralímpico representa na sociedade”, fala Leonardo Maiola.
 
O Brasil atualmente já tem 14 modalidades classificadas para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, com 117 vagas asseguradas e o planejamento é ficar entre os 10 países no mundo com mais medalhas, muito antes de embarcarem para o Japão em 2021 eles já são vencedores ao percorrer um caminho longo da sua superação pessoal, da vida e da sociedade.
Admin | Projeto Meninos do Lago